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domingo, 14 de março de 2010

Professor: uma profissão estressante 2

Existem coincidências na vida que são interessantes. Alguns dias depois de eu ter publicado sobre a questão do stress do professor, recebi um e-mail através de uma lista de discussão que participo, reproduzindo um texto escrito por Clovis Rossi, da Folha de São Paulo, falando justamente sobre a mesma questão, que, por sua vez, havia sido matéria do El País (Argentina), em07/09/2009.

Reproduzo o teor aqui, obviamente sem nenhuma intenção de plágio, mas apenas por considerar que a questão da educação tem sido relegada não só no Brasil, mas em diversos outros países, inclusive alguns que pareciam ser modelo na matéria, e que algumas considerações vêm de encontro à minha "queixa" anterior.

A seguir, o texto.


A impunidade da ignorância

LONDRES - Pelo choque que me causou, repasso ao leitor o essencial de artigo do escritor espanhol Rafael Argullol para "El País".

Começa relatando que alguns dos melhores professores universitários espanhóis estão se aposentando "precipitadamente". Cita dois motivos: "o desinteresse intelectual dos estudantes e a progressiva asfixia burocrática da vida universitária".

Explico o sentimento de choque: não sei se a situação ocorre também no Brasil, mas sei que o caldo de cultura descrito por Argullol é parecido no Brasil (como, aliás, no resto do mundo).

Os professores, escreve Argullol, "se sentem mais ofendidos pelo desinteresse [dos estudantes] do que pela ignorância". Acrescenta que um amigo lhe disse que "os estudantes universitários eram o grupo com menos interesse cultural da nossa sociedade, e isso explicava que não lessem a imprensa escrita, a não ser que fosse de graça, que não buscassem livros fora das bibliografias obrigatórias, ou que não assistissem a conferências se não fossem premiados com créditos úteis para serem aprovados".

É o triunfo do que o escritor chama de "utilitarismo". Os estudantes são adestrados na "impunidade ante a ignorância", porque o conhecimento é um "caminho longo e complexo" e perde para o imediatismo da posse instantânea.

Não tenho informações para afirmar se essa situação ocorre também no Brasil. É evidente, em todo o caso, que há ou houve recentemente uma discussão sobre a asfixia burocrática.

Gilberto Dimenstein já comentou, tempos atrás, o fato de que professores de universidades públicas estavam se aposentando cedo e passando ao ensino privado.

O utilitarismo e o predomínio do individual são características contemporâneas globais. Estamos nós também cevando "a impunidade ante a ignorância"?

crossi@uol.com.br

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